quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O BOI BUMBÁ E A RESPONSABILIDADE SÓCIO-AMBIENTAL



Texto de Harald Dinelly

O autor é Gerente de Planos da Coordenadoria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Parintins, Acadêmico de Administração da UFAM e Micro-Empresário


Nos dias 03 e 04 deste mês foi realizado o III Seminário de Avaliação Crítica do Festival Folclórico de Parintins, onde foram discutidos vários eixos temáticos que iam de “Nova Estrutura do Bumbódromo” até “Comunicação e Marketing”. O que não se viu em nenhum momento foram os Bois e o Governo do Estado tomar a iniciativa de discutir e avaliar o impacto social e ambiental que o Festival causa ao nosso município.
Os Bois, que são os grandes beneficiados pelo Festival Folclórico de Parintins, em nenhum momento preocupam-se com os malefícios sociais causados ao povo parintinense, a prostituição infantil que acontece o ano todo, durante o Festival se intensifica, e não adianta a Ilma. Ministra do Turismo Marta Suplicy vir a nossa cidade para lançar campanha contra a prostituição infantil se as instituições que atuam no combate a este crime hediondo, como os nossos heróicos conselheiros tutelares, não têm apoio suficiente, para desenvolver um trabalho de impacto, de nenhuma esfera pública (Municipal, Estadual ou Federal). Outro fato é a quantidade de partos que acontecem nove meses depois (Março e Abril) nos hospitais de Parintins, na sua maioria são mães solteiras que não terão condições de criar esses filhos, estes crescerão sem a referência paterna e poderão ser futuramente adolescentes desajustados que ficarão a margem da sociedade e esta exclusão os fará entrar no submundo do crime.
E o povo indígena, que é a base da criatividade de nosso Festival, graças a sua vasta cultura nossos bois se renovam ano a ano, e graças a isto hoje somos o Boi Bumbá, senão ainda seríamos “Bumba Meu Boi” vindo do Maranhão e teríamos que repetir ano a ano a mesma história do “Auto do Boi”, perdendo com isso nossa criatividade que tornou notória mundialmente a nossa Festa. Os índios participam de nossa Festa, porém como empurradores das alegorias, não têm direito a nada do que os bois arrecadam usando sua cultura milenar e em um Seminário como o supracitado, apesar de estarem alijados do processo, surge um índio questionando o Festival, fui surpreendido pelas “infelizes” palavras de alguém que estava em uma fileira atrás de mim: “O que eles querem?... não sabem nem empurrar as alegorias”, se referindo aos acidentes que ocorrem frequentemente em nosso Festival cuja a maioria dos “executados” são os aqueles que dão vida ao nosso Festival, índios.
A questão ambiental é algo que nem precisaria estar sendo discutido, por ser um problema de ordem mundial e que ocupa a maior parte da mídia global. Os Bois entram na arena do Bumbódromo como defensores da Amazônia, evocam nas toadas os seres fantásticos da mitologia indígena e até se identificam com eles: “... Somos curupiras... somos curupiras...”, porém, que proteção ambiental é praticada pelos bois no nosso dia a dia? Caprichoso e Garantido durante o seu processo de criativo na construção das fantasias e alegorias fantásticas em nenhum momento preocupam-se com os resíduos gerados pelo processo, a grande quantidade de lixo que fica nos arredores dos galpões é absurdo e mais absurdo ainda é ter a resposta irresponsável de que a destinação final deste lixo é somente de responsabilidade da Prefeitura.
A melhor maneira de se combater o lixo é sensibilizando a sociedade de que o lixo é gerado por cada de um de nós, e que o combate aos seus malefícios também deverão ser iniciados por nós, praticando os 3 erres: Reduzir (diminuir a quantidade de lixo gerada), Reutilizar (aproveitar algumas coisas para serem utilizadas para outros fins) e Reciclar (fazer com que parte do lixo se torne novamente matéria-prima para novos produtos).
Quero deixar claro que não sou contrário ao nosso Festival, porém precisamos questionar as pessoas que estão à frente dos Bois-Bumbás para que não fiquem visando apenas a arena do Bumbódromo e sim toda a sociedade que está em volta dele, de onde nasceu no início do século passado esta manifestação Folclórica sem igual. È de responsabilidade dos Bois, patrocinadores e apoiadores combater as mazelas que são produzidas pelo Festival.
Este é o momento oportuno para se questionar, estamos próximos a mais uma eleição nos Bois e esperamos que os candidatos tenham esta visão macro do Festival para que,um dia, os Bois-Bumbás realmente mostrem que são protetores da nossa mata, representantes da cultura milenar indígena e fomentadores de uma sociedade Parintinense melhor.

Um comentário:

  1. Muito bom comentário, é isto realmente o que acontece! E só para complementar, em relação aos indígenas, sua cultura é explorada durante o festival passando a imagem pro mundo que somos orgulhosos por esta cultura, mas passando o festival fale para algum morador do município de Parintins que ele é índio, você pode até ser agredido! ISTO É UMA VERGONHA.

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