sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Os Apagões


Texto de Luís Oreste

O autor é Economista, Pós- graduando em Educação Ambiental e colaborador da Equipe de Projetos da Coordenadoria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Parintins.


O termo apagão, segundo o dicionário Aurélio, significa corte ou interrupção de energia, escurecimento completo que leva ao blecaute. De uns dois anos para cá, o termo passou a ser utilizado para explicar a situação em que se encontra a aviação brasileira. Sistemas de monitoramento defasados; controladores estressados devido à alta carga horária de trabalho; aeroportos dentro dos centros urbanos criando áreas de grande risco; falta de concurso público para aumentar o quadro de funcionários e, para agravar ainda mais o problema, os recentes acidentes da Gol e da TAM.
Por outro lado, se verificarmos as causas desses problemas podemos identificar: falta de investimentos por parte do governo federal quanto a melhorias e adequações nas estruturas aeroportuárias tanto nas pistas como na área de embarque e desembarque; construção de novos aeroportos nas regiões com maior tráfego; aumento da demanda pelo transporte aéreo.
Em Parintins, um dos problemas enfrentados no aeroporto Júlio Belém são os urubus, que construíram seus ninhos ao lado da extensão da pista, eles se alimentam do inajá* na cabeceira da pista. Quando eles sobrevoam causam problemas no momento de pouso e decolagem das aeronaves. Vários incidentes já ocorreram e a ANAC estabeleceu um prazo para a direção do aeroporto sobre providências a serem tomadas. Será necessário acontecer um acidente de grandes proporções na pista? Ou mesmo que o Júlio Belém seja interditado? Como ocorreu em Tefé recentemente, para que sejam tomadas as medidas de prevenção contra acidentes?
Pelo que se verifica, a sociedade moderna caminha a passos largos e as políticas públicas caminham lentas como as tartarugas. Soluções não são tomadas; a não ser medidas paliativas. E o governo só fecha as portas depois de arrombadas. Se fizermos uma análise sobre o município de Parintins, veremos que não existe apenas um apagão aéreo e sim vários apagões. Trânsito, saúde, educação, habitação, saneamento básico, geração de emprego e renda, e uma carga tributária muito alta que desestimula os investimentos produtivos e estimula os investimentos financeiros. Se a contrapartida do município com os recursos arrecadados e os repasses do governo estadual e federal fossem realizados de forma correta, a população não precisaria pagar planos de saúde, colocar os filhos em escolas e faculdades particulares, não estariam com medo provocado pela violência e não haveria um déficit tão grande de moradias estimado em 1600 famílias vivendo em áreas de risco ou em condições subumanas. No trânsito todos os dias acontecem acidentes e já começa entre as famílias o medo de sair e voltar acidentado ou morto. A má formação dos condutores, inoperância do DETRAN e a falta de estrutura da policia militar para fiscalizar são os fatores que agravam o problema. E a municipalização do trânsito onde está? Todos os meses a secretaria de saúde tem despesas com passagens ou fretes de avião para levar as vítimas de acidentes para Manaus em busca de melhor atendimento. Imagine o drama que vive as famílias tendo que acompanhar os parentes na capital tendo que arcar com as despesas durante o período de tratamento. Até hoje não temos UTI na rede hospitalar. Quanto ao saneamento básico, os resíduos sólidos são recolhidos na área urbana atendendo a toda população de forma exemplar, se compararmos com outros municípios vizinhos, mas quanto a disposição final do lixo é que vem o problema. Tudo o que é coletado na cidade é despejado num lixão a céu aberto, onde os catadores de lixo disputam com os urubus o que pode ser aproveitado. É desumano assistir a essa cena.
Enfim, Parintins não tem um planejamento a longo prazo, com políticas públicas voltadas realmente para a população. Falta leitura e visão critica dos problemas do município, visto que, tudo é projetado para quatro anos (ou oito). Conseqüentemente, os apagões continuam e temos que lutar para que não se agrave mais ainda, como acontece com o setor aéreo no Brasil.

*Palmeira cultivada, da família das palmáceas (Pindarea concinna), de cerca de 5 a 6m de altura, de fruto drupáceo, verde-amarelo; anaiá, coco-de-indaiá, coco-indaiá, inaiá, inajá, indaiá, najá, perinã

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